Páginas

21.10.06

aos poucos

Toda aquela densidade
Toda aquela gravidade
E toda a solicitude
São só a luz refletida

No vazio do espelho.

Todo aquele jazz antigo
Que ela ouvia por todo o tempo
Não era mais que miragem
Para entretê-la na frente

Do espaço do espelho.

Seus olhos fundos e fixos
Naquela teia de texturas
Que a envolvia lentamente
Entre as nuvens que se escondem

No verso do espelho.

http://www.flickr.com/photos/vertigem/272372305/

6.10.06

não há homem mais correto
do que aquele que corre
em defesa do seu erro

que, do mosaico que sabe
ter escondido nas nuvens
que traz por detrás dos olhos,

faz sair, como de um impulso
qualquer, o brilho branco
de algum sol que o assimila

23.6.06

ele veio e fechou os olhos.
a fumaça concreta o vencia.
a sala vazia o sufocava.
a porta fechada, os degraus da escada.
nada.

foi assim que a sombra que ele escondia nos olhos se dissipou.

4.6.06

Refletiu tantas vezes
que já sabe de cor conjugar as constelações
Não consegue, mas tenta,
apagar as sombras das nuvens nos olhos que esconde
Então, faz de conta que a lua o pergunta:

"e agora, pra onde?"

28.5.06

A hora certa, acorde e vá pasear

Busque, embaixo do travesseiro, caminhos que se escondem por lá

Então brinque com o rosa e o azul das cores
Brinque de comer flores, brinque até se cansar!
E, no fim, quando você não se segurar mais
Tudo se enrola, imóvel, naquele lençol de girassóis.
Os olhos de ostras não vão mais chorar.

8.5.06

todo mundo sabe o que significa.

um salto pro mundo
com uma nuvem de fundo.

é a beleza que inspira
a beleza
que não tem mais fim.


é aquela folha amarela e amassada
no meio do eterno do jardim.

sabe aquele gostinho..?
sabe, sabe sim.
ele gostava de poesia
tomava cerveja
e discutia economia

era tudo o que achou que um dia poderia

então rompeu seu raio
pulou da sacada
sem nem olhar pro alto.
vôou por dias e mais

depois voltou
e não morreu jamais.

1.3.06

...

toda estrela tem sua história
que a maré apaga
no seu leva e traz
em marcha ré

30.1.06

"_____"

Queria construir um castelo de areia
no jardim da sua janela.
Pra ela poder admirar sentada
no seu banquinho de quimera,
que fica ao pé daquela árvore.

Queria ouvir o silêncio do seu sorriso
quando ela visse a minha sombra
para além do sol.

Queria ver ela dançando
naquele belanço sem cordas.
Queria ver ela chorando,
queria ver ela voar.

18.1.06

brincadeira..

Vicente abriu a porta e saiu. Queria ir à farmácia, tinha dores de cabeça e muitas outras coisas que ele não sabia o que eram. Viu uma folha no chão e continuou andando. O que era uma folha comparada aos problemas de Vicente? A antiga foto que ele trazia na memória seria partir de agora um papel em preto e branco, nada mais. O cheiro das suas lembranças não era mais o do balanço da arvore no antigo jardim, nem o da brisa no romper do ano de Boa Viagem. Era só cheiro de guardado.
Vicente não conseguia deixar suas lembranças pra trás assim como fez com aquela folha amarela no chão. Era como se o vento, que sempre o guiara nas suas tempestades agora lhe trouxesse de volta a única coisa que ele queria abandonar.
Assim que entrou na farmácia, Vicente pode esquecer da folha, esquecer de tudo o que vira na rua e pedir em voz rouca:
- Quero um comprimido para dor de cabeça.
Sem que demorasse um minuto foi atendido e devolvido ao seu caminho. Ia agora para casa. Estela vinha visitá-lo precisava está preparado. Seguiu em rumo reto sem ser interrompido por folhas, fotos ou aromas quaisquer. Chegou em casa e fechou a porta. O comprimido tinha que ser tomado rápido. Estela ia chegar em poucas horas. Não é que ela fosse a visita mais importante das que ele poderia receber, afinal, trabalhava como contador para pessoas de grande relevância política. Era, no entanto, a única pessoa de quem ele gostaria de esconder as lagrimas que não derramou.
Deitou e dormiu. Talvez isso ajudasse a sumir com a dor de cabeça ou pelo menos melhorar sua aparência. Foi um sono pesado apesar de breve. As melhores três horas que Vicente desde a ultima quarta feira. Levantou-se para tomar banho. A dor de cabeça não tinha passado. E seu semblante também não parecia menos mórbido. O banho também não ajudou. Mal tinha colocado a roupa quando Estela bateu à sua porta. Atendeu. Fez com que se sentasse. Andou começar o jantar.
Estela bateu à porta nem meia hora depois. Entrou e foi à cozinha. Vicente não lhe dirigiu a palavra, ou o olhar. Continuou nos afazeres que não o ocupavam. Ela sentou-se na cadeira. Ficaram assim. Ela encarava-o. Ele fugia-lhe.
- O jantar está pronto.
Foi assim que ele terminou a conversa. Sentou-se. Serviu os dois pratos mecanicamente. Ele comia. Ela o viu terminar o prato sem levantar o talher. Ele não conseguia responder ao seu olhar.
- Pare!
- Não quer que eu coma?
- Você sabe do que eu falo.
Vicente então levantou o olhar. Não poderia mais fugir? Estela se levantou. Seu prato intocado esfriava. Vicente não o retirou da mesa. Queria, mas não podia. Não sabe o que lhe impedia de fazê-lo. Talvez a mesma coisa que o impedia de encará-la.
- Ela morreu.
- Não repita coisas para me ferir. Coisas que eu já sei!
- Parece que não se lembra.
- Eu lembro e sofro cada vez que lembro.
- Não precisa. Você não precisa se acabar.
- Mas talvez eu devesse.
Essa palavra reiniciou a conversa. Era Vicente, entretanto, que encarava Estela dessa vez. Seu olhar não tentava fugir. Estela se dirigiu à sala. Abriu a porta e saiu. Deixou-a aberta. Mas não conseguiu entender porque. Talvez achasse que ele aseguiria. não teve certeza.
Vicente não se moveu durante todo esse tempo. Nem mesmo fechou a porta. Simplesmente sentou ao lado frio de Estela. E não chorou.


num faço muita prosa, mas a comecei brincando e quis ver no que dava.