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30.8.09

com um copo de uísque na mão
eu olho o fogo
que toma as paredes

fantasmas largados em volta
debocham com risos
da minha derrota

mais um gole

as cores quentes
explodem vida
por todos os lados

eu assisto o espetáculo de dentro

cada livro porta vaso
transformado
em nada

cada parte de gente

se vai
se deixa levar
na fumaça

e chama
me inflama
me faz pedir

outra dose

25.8.09

muda

ela só queria viver
sorrisos
pular os pés deitados no caminho

e o dia ver
arder
seu reflexo na pele

e a noite vir
colher
as sombras e os sons da alma

e a vida dar
amor
a um mundo novo

seu espelho

resposta

há, pra mim, vários amores. e muitos sentimentos bem próximos. outros distantes. e alguns tão distantes que uns chamam desamar. ou esquecer. mas vem tudo do mesmo canto. vai tudo pro mesmo rio. e o verbo que importa é deixar. e isso não se controla.

24.8.09

eu espero a água bater nos meus pés antes de qualquer coisa. e enquanto a onda volta, levando a areia e afundando mes calcanhares alguns milimetros, eu olho pro céu. como se pedisse uma benção de lá. como se o vento pudesse me aceitar o corpo. me levar no braço. me soprar o rosto com outro ar. os primeiros passos que dou são curtos. e firmes. depois disso sou mundo. mergulho na certeza da água. e me quero soltar na calma e no fundo. e ser tão eu que seja tudo.

8.8.09

pensei seriamente em te deixar um recado. não sabia se uma justificativa. ou um grito desaforado. mas calei. o gato morreu. e a culpa cai sobre todos. sem desculpas. fiquemos felizes com a mudança de ares do bichano.
era tanta felicidade que não sabia. ria de piadas ruins. repetia as mesmas conversas. deu duas baforadas num charuto. brindou até com água. queria rir de tudo o que via. sorrir da vida. que tanto merecia sua disposição naquele dia. então comprou cahaça e pôs roupa bonita. saiu na rua sem ver sinais de fumaça ou nuvens pesadas. tanto fazia o quente ou o frio. tanto fazia. então foi. meio sem destino. atraiu alguns olhares estranhos. mas não ligou. até se ver dividido entre sorrisos compartilhados e rostos repressores. caiu. se viu feio e estranho. esqueceu o que sentia. derrubou a cachaça no chão e evitou os brindes. evitou até os sorrisos. se concentrou no tempo perdido. na vida e no estar que não pareciam mais ter graça alguma. era tudo tão escuro, apesar de branco. por duas vezes parou pra pensar. dormiu em pé por uma hora de duas semanas. e entendeu que estava perdido. sua alegria não se aceitava sempre. pediu desculpas pelo sorriso impróprio. e se retirou pra esquecer o dia mais alegre da vida.

6.8.09



pra expressar a admiração pelo cara!

gota só

uma gota de chuva encharca o sapato. pisa molhado. faz ondas nas poças. faz pouco do frio. e põe força nas pernas. que querem parar. ele não controla os pés. olha pra baixo. cego. para todos os lados. vê as penas dos pássaros caídas. queda leve que espera um vento levar. cego. para o próximo passo. vê apenas o espaço em que deve pisar.

espera o sol que a primavera insiste dizer que vai chegar.