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24.10.10

obsessivo-possessivo

se tinha um problema sério com as palavras em geral, ficava especialmente desconfortável com os pronomes. difícil não perceber como ficava constrangido e sem rumo quando enfrentava a leitura ou era obrigado a utilizar em uma frase de um integrante do grupo gramatical em questão. não gostava nem um pouco do poder que os benditos tinham de querer incorporar a força das demais palavras e significados. não gostava nem um pouco de pronomes, definitivamente.

27.9.10

pigarro

sabia que da vida alguma coisa ficava. prendia assim mesmo mais do que podia conter. reusltado é que no engasgo mais que natural lhe doia mais a pele que a espinha. e aí que tossia, com força, pra rasgar da vida os instantes que gravou nas paredes do esôfago, no pâncreas. e se muito conseguiu foi uma gastrite.

respirar é preciso, mas quemd isse que a gente sabe.
algumas noites em salvador me alimentam. não se e a noite, a cidade ou a varanda. ou mesmo algum nutriente que paire no meio de tudo isso. sei que há nesse estado de coisas e nesse ar algo que me reflete. e eu sou ali. na noite, na cidade e na varanda. parado. e por mais que pense mil coisas bestas ou sérias, apenas passo pelas ideias.

eu cresço com o simples ato de ser ali.

23.9.10

22?

se eu já procurei a primavera em outros campos. hoje mal a vejo chegar. não vi flores, nem brisa ou calmaria. vi o memso que via ontem. e não espero mais que isso. não quero rotina. nem quero mudança de vida.

eu trabalho pra que tododia se repita.

21.9.10

vida,

favor andar sozinha quando eu der o play no dia e voltar pra dormir por mais duas horas. não precisa me esperar pra acontecer. quando eu quiser voltar aviso.

19.9.10

café demais cigarros de menos

eu puxo pelo rabo cada pedaço de palavra que escrevo. uma resenha essas coisas todas que me querem fugir. e eu, ainda mais, que quero fingir que quero estar aqui. que quero pular essa parte toda. de falar falar falar. balanço o joelho pra deixar as coisas pisadas no chão. uma ponta de cigarro na calçada. esmagada. coma força da ponta do pé na sandália. e nada. às vezes. quase sempre. eu queria ser só o ensaio. e nada. pra cuspir longe meus caroços de melancia. e nada. e poder dizer com toda a naturalidade da vida.

dizer bom dia e ver a fumaça da vida passar.

18.9.10

arreperreio

a barba cresce na velocidade dos dias. e falta pagar a água de coco do café da manhã. falta lembrar dos ovos e das borboletas soltas presas em seus casulos. mas quando a gente tem vontade. tem medo. e o sono da tarde vem tomar as noites. e aí nem adianta mais pedir. a disposição pra todas as coisas do mundo é pouco pro dia de hoje.

e eu só espero que o gosto do mirtilo dure um pouco mais na boca.

8.9.10

na caixa azul

ali no cantinho
achei uma fita amarela
quera pra ser lembrança dela
mas fica guardada em mim

1.9.10

chico e caetano

eu sou bipolar. e fico vendo acontecer, como se uma terceira pessoa, meus dois eus. e vejo uma briga que não para. a não ser quandeles escutam chico e caetano ao mesmo tempo. o nervoso acalma. e o contido salta.

23.8.10

eu sinto

eu sinto, desde ontem, quando as coisas pulam. como o sol minha cabeça. como crianças no balanço. com eu sem âncora.eu sei que tneho a noite toda. e por isso a aguardo chegar. a deixo passar. pra ver o tamanho do mundo. antes. pra ver o que eu posso. eu sei que é só.

18.8.10

eu volto

eu chego em casa na noite da correria. eu trago o que posso comer. engulo a saudade com vontade de deixá-la sedimentar no corpo. não atinjo meus objetivos. e percebo que a rotina me alegra como nunca

5.7.10

bom-dia

concordava em definitivo que não 'te amo' não é 'bom-dia'. e justamente por isso achava bonito a naturalidade com que ela conseguia dizer as palavras. chegou pensar que amava mais essa natureza que a ela. lia sempre seus recados em orelhas de livros, versos de fotos ou expediente das revistas dele. cada palavra era simples. crescia durante o texto curto. e dizia um 'eu te amo' maduro. ele relia cada deles de tempos em tempos. sobrava memória boa pra preencher de situação a tarde e o quarto. e quando de repente ouvia a porta abrir na sala, corria. abraçava e dizia 'eu te amo'. numa urgência e importância. numa carência de se mostrar. num jeito nem ensaiado, nem natural. num jeito que escapa de não se conter, quele nunca desconfiou a fizesse ocupar ruas e dias enquanto estava fora.

22.6.10

uma msitura perfeita de acordar cedo e fazer nada o dia inteiro

20.6.10

um dia aquela menina virou pra mim num bar. enquanto tomavamos cerveja, depois de um abraço e um 'há quanto tempo, tás bom?'. ela me estudava. eu disfarçava. um gole e ela me diz que um dia, bem em breve, a gente ia voltar a fazer isso com naturalidade e frequência. eu e a amiga dela não estariamos pra sempre distantes. eu parei de disfarçar. sorri. sabia que sim. um laço. um roubo. e um fato. vivemos mais e comprovamos. é como se a gente escutasse música juntos, todos os dias, uma horinha.

17.6.10

decidi transformar esse blog em diário. mas não consigo colocar nele a minha tristeza em linha expressa. veloz demais apago qualquer letra. mas não esqueço. o que queria.

8.6.10

eu não poderia culpar a rita. deixei meu sorriso com ela de bom grado. foi o disco d enoel queu trouxe comigo, pra lembrar do riso dela, quando ele canta.

7.6.10

eu ainda escrevo só pra salvar o rascunho

6.6.10

eu viajo

a partir de hoje esse blog também pode ser, oficialmente, um diário (um caderno de vida, já que não dá pra chamar de viagem). me impulsionou a vontade, ou a cobrança. ou simplesmente os tantos minutos de ‘viajo porque preciso, volto porque te amo’, que assisti no último domingo. minha primeira ida ao cine glauber (quase uma versão baiana da fundação), e sozinho – nem sei se por opção ou falta de esforço – mas felizmente sozinho.

em casa me perguntaram o que achei do filme. e pense que foi difícil dizer. por isso escondi esse post nalgum lugar, circulando, antes de conseguir escrever. mas fato é que praticamente não vi o filme: achei chato, confuso, e meio vamos arranjar alguma coisa pra justificar o dinheiro que gastamos viajando e fazendo essas imagens todas que estão completamente desconexas. mas ainda assim, acho ótimo que aquelas imagens tenham sido costuradas daquela forma e com aquela narrativa inventada pra justificar o dinheiro gasto.

sei que não pude parar de viajar eu mesmo no meu lugar. e pela primeira vez desde há muito tempo, parece que aceito meu despropósito. e sinto por isso. sinto que meu sertão é mais deserto, e nem as putas da estrada aparecem nesses últimos dias. sinto isso e sei que não viajo porque preciso. sei que não volto. eu amo? o geólogo não sabe fazer cartas de amor, mas ainda se arrepende. solta a vida pra buscar de novo. eu hoje não sei dizer.

eu não pulo daquela rocha em acapulco.

5.6.10

ela ama
eu desânimo

30.5.10

o qué que muda quando a gente se muda. eu vejo outros cantos pensando nos mesmos contos. mas não. revejo carências e me sinto propenso a repensar. talvez algumas conversas fossem diferentes hoje. e os resultados os mesmos. ?. eu sei que não quero mais as certezas que tinha. pra poder diminuir meu longo prazo pra alguns meses. e viver de temporadas. deixando a garrafa levar o barco. sem perceber que só gira no mesmo lugar.

24.5.10

o tempo muda desde o meio de maio. desde que eu calo. faz calor. e cada gota de suor que pingo me faz falta. fecho o olho e pulo o vento. eu tive uma ideia pro melhor dia do ano.

21.5.10

me vem de vez em quando uma voz. que me pega surpreso comigo e com a minha displicência. é um susto se ver diante dos menores problemas. se perguntar sobre o a depois do ponto. a ponto de não saber mais se encontrar qualquer início vírgula fim.

20.5.10

eu vejo

das quatro janelas que pus no quarto vejo reflexos diversos da vida. vejo brilhos distintos de tempo. e passeio por todos os passados. passo eu, em lugar da rua. pela saudade que carrega cada pedaço rasgado, cada abertura. e tento não pensar. só passar. só queimar no peito as luzes fortes. de mares e olhos.

e sem nunca fechar qualquer delas. deixo a vida toda ventar.

16.5.10

quasequinze

o que o dia pede eu peço a mim mesmo

nas quinze horas
de sono acumuladas pra viver
nas quinze horas
de um dia que morre

eu vejo tudo de novo e paro
e vejo tudo de novo
em luz e muito branco

estouro

os lugares por onde andei em mim pulsam
e pulam bagunçam certezas de quinze minutos

e peço de mim o que o dia me pede

15.5.10

aos sábados eu não não me escondo mais
paro de fazer isso
pra começar a não dormir

e vendo o dia cansar
eu lavo e peneiro
a massa branca fina passa
e eu me deixo ficar
morro

nas primeiras horas da manhã

14.5.10

eu já transformei minha vida eu palavra. agora o que faço é brincar de dislexia.

6.5.10

doméstico

tomei na noite passada as cervejas que tinha guardado pra tua vinda. comprei outras dpeois, que cê inda vai encontrar na geladeira. mas o fato é que bebi as suas. mas cê sabe. ontem fiz uma faxina de livros, revistas e vida. bem dessas que a gente não consegue fazer a palo seco. ou com a garganta seca, que seja. estavam ótimas. véu de noiva, como cê queria, e como não sei se essas outras estarão quando cê for beber. os cigarros tão na gaveta da direita da mesa se estudo. não mexa em mais nada. meus papéis estão ordenados. esteja em casa, eu volto já. fui comprar uma mesa de cabeceira que não acho que preciso.

22.4.10

berenice me disse que não se perdoaria. e eu que sabia que era verdade sorri. escrevi um =p num guardanapo da mesa e passei ao outro lado. sei que seria impossível a ela viver ignorando esse fato. não esquecia nada. nunca. tinha a memória queu jamais invejei ter. eu que me lembro, mas gosto de esquecer. sabia nomear todos os filmes que vimos juntos em três anos passados. e com quem estávamos todas as vezes que nos cruzamos naqueles shows da ceninha, em que ela trabalhava e eu só bebia. era assim que ela vivia. e hoje, tendo dito o que disse, eu soube que não era mentira. por isso a risada e o recado. pra que também ficassem guardados. pra que fossem sempre associados a sua falta de perdão. como sei que ficariam. já que de tudo ela se lembrava. eu é que dali a três outros anos, quem sabe, lembraria mais do =p no guardanapo que de qualquer falta que ficasse sem perdão.

17.4.10

por pouco não escrevo um post sobre o todo

culpa de amaranta
que em tudo me pergunta
o quanto eu sei acredito e vejo
no tanto que desejo

e se eu pergunto quem sabe
se cabe
ou como sente
não sei se quero resposta

sei que quero uma noite
uma vida
outra coisa que sinta
uma conversa que alonga
e um pouco de tudo

e que é tudo o que a gente pode querer

10.4.10

num dia escolheu ser branco. acompanharia a vida dessa forma. se quis fazer branco pra sempre. e seguir. esquecce um detalhe simples. esqueceu que o branco carrega em si todas as cores. e o peso disso dentro dele não cabia. desabou branco na esquina. sangrou verde e azul. voou pedaços de amarelo e vermelho. a chuva caiu e varreu.

juntou-se novamente em algum bueiro da cidade branco.

9.4.10

entranhei

estranhei a rua. essa chuva não para e o frio parece que chegou. caminho poucos pingos. e passo as prateleiras com cara de quem comeu mais do que deveria. a notícia de um sanduíche me dá água nos olhos. e eu choro a beterraba desifratada. o coalho e o parma. e a volta carrega o leite e o coração na sacola. e não é saudade. é o peso da escolha. e o que não é mais estranho está tão dentro que incomoda. não se desloca mais.

solto no chão a certeza de que alheio sou eu.

5.4.10

a gente tenta estica corre pula e não dorme
mas não adianta
não tem carnaval que dure mais de cinco dias

29.3.10

eu queria o fim de março
só pra voltar ao passado

que venha
que venha
o mês que vem

pra abrir meu carnaval

28.3.10

pititinga



faz parte do branco dessa vida. sair e florir com gente querida. correr uma praça e um sol. e quase pular um mar.

22.3.10

ano novo ou nota sobre romance

hoje eu assiti romance. sábado passado, sem nem lembrar. sem nem pensar muito. fui à locadora do outro laod da rua e escolhi 4 filmes. romance um deles. me chamou atenção entre os filmes brasileiros na gondola. a capa bonita. amarela e com os meio-sorrisos de leticia sabatella e wagner moura. do outro lado, a direção de guel arraes. foi o último a ser escolhido. o fim é que o foi. e hoje foi visto.

e no meio de tanta imagem e tanta coisa uma frase me fez lembrar de outra frase. na verdade dela mesma dita em outras palavras. por outra mulher. em outras circunstãncias. um ano atrás. quase exato. hoje e há um ano, duas mulheres me diziam que "sempre é uma invenção a pessoa por quem a gente se apaixona". e eu compreendi então como hoje as verdades dessa frase. e discuto com ela agora, como discuti antes. mas discuto comigo. guardando segredo até desse post sobre minhas idéias.

escrevo apenas para marcar a ironia de completar um ano em lugares tão identicamente diferentes. e que me fazem pensar que março, não pelo fim do carnaval, mas pelas frases de um filme, me marcam o começo da vida nova. e que esse blog possa acompanhar minha mudança sempre presente.

21.3.10

eu mudei de casa e to tentando dar uma balançada nessa vida. resta saber quando é quesse blog muda pra acompanhar?

17.3.10

pouco

é pouco e bobo. e eu sei. mas ao achar uma foto esquecida eu encontro uma fonte de ânimo. ver o encontro que fui. com o rio e burle marx. e que não se apagou. queria ter sido maduro para não ter destruido tantos outros. que foram também assim pequenos e bobos. e hoje nem isso mais são.

16.3.10

pequena poesia colaborativa

mas que se pode fazer
estamos na vida a correr
e os riscos a nos correr
corre corre
mata-mata
(mata não)
e vive só

10.3.10

morada

sentado na cadeira velha o homem pensa na vida boba enquanto vê o céu mudar suas cores. na varanda da cozinha o cheiro forte das ervas na panela fervendo o chá completam a cena fatalidade do dia. de cair em si e viver só. é o que pode ser nesse fim de tarde ardido e quente, sem brisa e sopro. é o que espera a noite: uma xícara três páginas e muita falta de sono. e na dureza do chão da sala esperar as paredes encolherem até o teto se fazer um ponto branco e sem fim pra que se perca de si.

8.3.10

agora queu tenho internet em casa esse blog pode voltar a existir.
mas será que vai?

3.2.10

vinho e canela

Rafa no canto dela. Conversava com alguém que eu não conhecia. Nem mesmo sabia como havia ido parar ali. Ao lado dela. No canto da nossa sala. Numa das almofadas vermelhas e brancas perto da janela. Ela conversava alegre. Parte culpa do vinho. A outra parte não sei se era a companhia, o ambiente. Ou a música. Ou da atmosfera. Estava na sua hora da madrugada, como ela diria se estivéssemos mais próximos. Ela tinha na mão um cigarro, que segurava com aparente displicência. O quinto ou sexto da noite. Ou pelo menos o quinto ou sexto que eu havia acendido. Rafa não acendia seus próprios cigarros. Normalmente confiava a mim essa tarefa. Acender e dar a primeira tragada. Aí fumava como se fosse estivesse fumando o mesmo cigarro há horas. Não sei se teria feito tal pedido ao companheiro desta noite.

Ela falava um pouco. Depois parava para ouvir. E enquanto ouvia, olhava para o sujeito como se ali na frente dela houvesse uma tela pontilhista. Admirava concentrada, como se fazendo os pontos se juntarem e se separarem. Uma dança de compor e desconstruir a imagem com os olhos. O cigarro ia à boca rapidamente. E depois fugia, como se o cigarro puxasse a mão, tentando durar mais tempo com ela.

Procuro meu vinho na mesa. Passeio os olhos na sala. Finjo prestar atenção às conversas em volta. As lembranças das férias de tempos atrás. Todos estranhos amigos. Poucos dos quais vi no último mês, mas com quem consigo conversar por horas sem problemas. Hoje é que não. Disfarço a desatenção e recolho as taças vazias. À cozinha. Taças na pia, para lavar amanhã, garrafas e rolhas separadas. Demoro com a cabeça na sala. Nas almofadas ao canto, perto da janela.

– Ei Roberto, vamo pra praia!
– Ã?!

Luiza chegou na cozinha e tomou meu lugar à frente da geladeira, queu mantinha aberta apenas para pensar. “A gente ta indo na praia. Bora.” Pegou duas garrafas de vinho e voltou pra sala. “Cê pega o saca-rolhas, Beto? Acho que ficou aí.” Chego na sala, saca-rolhas na mão. Rafa está na janela. Sozinha, em pé. A porta aberta, alguns já no corredor do prédio, outros terminando de pegar o que vão levar. Luiza grita de dentro do quarto vai pegar uma canga e sandálias emprestadas.

Vou à janela, pergunto se ela vem. Vira pra mim, tira o cigarro da boca. (Ainda o mesmo?) E me diz que não. Está cansada. Vai ficar.

– Teu amigo, já saiu?
– Quem? O Lucas?
– Sei lá que nome tem, nunca vi, aquele que tava aí..
– Foi no banheiro, mas acho que não vai querer ir com vocês não.
– Bora Beto! Vai ficar eim?!

Rafa achou melhor que eu fosse logo. Estaria bem.
Fui. Luiza era a única que ainda esperava em frente à porta. O elevador já havia descido com os outros. Fomos de escada. Ela tinha pressa. Eu ia com a ajuda de todos os santos. Cada degrau atraía meu pé com a força de um pólo oposto. E cada avanço era um esforço. Um fôlego. Cada passo, uma perda. Eu seguia porque pensava, e evitava voltar àquele canto de sala. As taças na mão pesavam. Querendo cair e quebrar. Eu segurava à força. Pra também ficar em pé. Até o fim da escada. Até a entrada. Até a calçada.

Enquanto alguns guardavam as coisas nos carros, “para adiantar a volta”, continuei andando. Agora sendo expulso daquele lugar. Sem olhar. Não pus a cabeça para cima. Não quis ver a janela ou as luzes acesas. As ruas vazias e as lâmpadas dos postes eram minha calma. Assim como o equilíbrio das taças. Uma curva à esquerda e uma quadra. Pouco mais de cem metros e estaríamos na praia. O barulho no silêncio da noite não negava.

Esperei pelos outros. Sentei o mais próximo do mar que pude, sem me afastar dos demais. Luiza sentou ao meu lado. Me tomou as taças das mãos e deixou na areia. Perguntou pelo abridor, depois passou a diante. Deitou. A cabeça no meu colo. Os braços na areia. A canga deixou para lá. Olhou pra cima, o rosto de lado. E falou dos nossos intensos e impossíveis namoros. Dela com as estrelas; meu com o mar.

Era o tipo de pessoa que não se podia ignorar. Pela alegria. Pela vida. Pela harmonia que tinha com ela. Luiza entendia a todos. A mim, mais que eu mesmo. E foi sempre assim. Nunca me dizia nada. Mas com os olhos me deixava saber que pensava. Por isso não olhei para baixo quando virou para mim. Iria deixar o mar balançar suas verdades. Queria que as mandasse embora. Que as levasse pra longe. Pro outro lado. E que só voltassem à praia quando as ondas também já me tivessem levado.

Ela continuou olhando. E falando das estrelas que via. Eu só fingi que escutava. Esquecido de qualquer astronomia que conhecesse. Me esforcei ouvir uma anedota qualquer e querer rir. Depois de ela levantada virei o corpo para a roda. Pegar uma taça de vinho e beber. Mesmo que não funcionasse, distrairia. A mim ou a Luiza. E afastaria a outra dali. Da luz acesa, vista pela janela aberta da sala. Que sabe não era isso o que faltava.

Horas passadas assim seriam antes bem-vindas. Quaisquer que fossem as condições. Hoje aquelas pessoas não eram as minhas, ainda que pensassem que eu fosse delas. As duas garrafas de vinho foram pouco para o grupo de sete. Mas ninguém quis voltar, buscar mais. Eu que não sugeri, aceitaria a proposta. Mas fiquei.

Dali para as cinco horas não demorou. O sol nos encontrou voltando no caminho por que viemos. Alguns quase dormindo. Outros cantando. Quase todos bêbados. Andando nas calçadas recém aquecidas pela manhã. Deixados todos em seus carros ou táxis, subi. Calçada, escada, porta de entrada. Cinco andares e casa.

Deixei a pequena bagunça para quando meu domingo acordasse. Banho e cama. E que o sono cuidasse de sossegar a cabeça que não parava. Mesmo depois de ver o canto da sala vazio. Sem sinal de seus habitantes naquela madrugada. Deixaria os olhos fecharem e esquecerem. E quem sabe com eles também o peito esqueceria mais essa vez.

Ouço a porta abrir. Abro os olhos aos poucos. A porta fecha. Ela quase cambaleia. Tira os sapatos no corredor. Passa a porta do quarto, aberta, e vai à janela. Estou de vez acordado. Rafa se aproxima e se senta no canto da cama. Massageias os pés e me deixa alisar suas costas. Abre a bolsa puxa um cigarro e o isqueiro. Acendo. Dou a primeira tragada. Seu cigarro tem sabor canela. Ela me beija e reclama não ter me pedido para acender mais um antes de sair para a praia.

– Passei a noite com vontade desse cigarro.

25.1.10

mais de mês

um ano quase não passa sem movimento. e tantas palavras verdadeiras quanto se conseguuir achar. verdades e palavras. eu encontrei algumas nas ruas nas águas e nas bocas na cidade. ou passeando soltas no vento. hoej eu ando sempre esperando esbarrar noutras muitas. pra correr o ano bem. e aguentar sóbrio o tempo.