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23.11.08

sinal fechado. o carro parou. entre a locadora e o lava-a-jato, ela olhou pros dois lados. olhou pra frente. depois das ruas, o mar. prédios altos e um céu teimosamente nublado entre eles. precisava fumar. cadê o cigarro. no porta luvas, não. na bolsa., embaixo do banco. puxa debaixo do banco para o colo. mexe e volta. pra quê diabos serve uma bolsa desse tamanho?! olhou pro semáforo. demora mais quando a gente tem pressa.

branco. um guardanapo amassado em forma de flor. besteiras dele. ainda ali. como os barquinhos, pássaros, aviões que fazia com todo pedaço de papel que encontrava. nota fiscal, panfleto, guardanapo. incrível como não podia controlar. uma mania absurda. abandonava qualquer conversa pras fazer as estúpidas dobraduras. e as deixava em todo lugar. na mesa do bar, nas janelas, no bolso da camisa.

uma buzina. o sinal está verde. larga a bolsa no colo. parte. dobra à esquerda e segue paralela à praia. outro sinal. agora, o cigarro. acende, abre a janela. pega a pequena flor. branca, amassada. a mão a segura do lado de fora. e depois solta. o carro anda, a flor pequena voa na fumaça cinza dos escapamentos.