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22.9.08

não era tanto o som
mas o eco de um violão
que o fazia acordar
todas as noites
às três e quarenta da manhã

pr aligar e desligar a tevê azul
pra sentar e deitar
virar e virar e desforrar o lençol da cama
e não pensar mais em nada

só ouvindo ecoar
o som das cordas espessas
presas
indo e voltando
batendo
nas paredes nas quinas nos cantos
daquele quarto vazio

flutuante

21.9.08

aí você acorda. olha pela janela. olha pro relógio do som e vê que não dormiu. vê que quem dorme ao teu lado é a mesma pessoa que estava ali na semana passda. vê que o teu lençol está no chão. vê que não está suando. que a mão dela segura a tua.

o resto do quarto flutua.

17.9.08

vem cá

me olha bem no olho
daquele jeito nosso
que me faz pensar nas flores
do arranjo de mesa da tua sala de estar

chega mais perto
põe minha mão na tua
me puxa
daquele jeito solto
que quase deixa encostar teu pé no meu
e faz dançar a tua saia verde e a minha bermuda jeans

aí me abraça apertado
daquele jeito junto
com o corpo inclinado
e a cintura chamando minha mão a rodar

depois encosta tua cabeça na minha
do teu jeito de lado
que faz misturar a minha barba e o teu cabelo enrolados
e me mostra o teu pescoço a beijar

e empresta teu ouvido à minha boca
prela te contar um segredo
prele ouvir em palavra
o que teu corpo conhece em beijo

16.9.08

eu tento olhar direto pro sol. esquecer da cortina arrancada. deitada. amassada no chao. vejo um raio que corta o quarto. vejo um azul. vejo o vermelho das minhas mãos e esqueço do sujo da chuva. esqueço por um segundo. mas penso que pode ser pra sempre. penso que posso queimar essa pele. torná-la seca e dura. tanto pra poder descamar noutra. pessoa.

sou pessoa que não escorre.

5.9.08

é a angústia de reconhecer o branco de tudo. de saber que sou eu. quem sou eu?
cada gora de chuva que suja a cortina branca me mancha das coisas deque me escondo, não só nos sábados, mas todos os dias. fecharia a janela. mas não arrisco me levantar. um vento. um trovão. o clarão. acordo vermelho. mao na cabeça.

acordo.
quem quiser pingar que saia de perto
quem quiser cair que escolha seu canto

eu quero dizer adeus
e me calo

quem disser que quer ser feliz que espere
quem quiser aprender que ande

eu quero ficar
e abro os braços

quem quiser acreditar..

que desista!

4.9.08

eu olho pro lado. pra cortina branca que me esconde do sol de todas as manhãs e penso no que eu queria. no que eu poderia fazer numa noite de gripe e dor de cabeça.
talvez tomar uma aspirina. ouvir uma música calma. ver um filme engraçado. ou ler alguma coisa interessante.

no branco da cortina eu vi bem claro que nem caetano ou adriana calcanhoto. nem guimarães nem bandeira. nem almodovar nem chaplin. nada me acalmaria naquela noite.
nem mesmo aquele cafuné que tava me fazendo tanta falta.