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1.10.19

músicas mudanças

toca na minha cabela, na voz de cássia eller, os versos de renato russo. mudaram as estações, nada mudou. eu, que até acreditei na mudança e comemorei a chegada das flores, vi que não floresci. me enganei com um perfume que passou por mim. sinto, ao contrário, tudo se retrair, reinvernar. como se a primavera dos outros fosse um jeito de eu perceber mais o frio e o freio das coisas minhas. e, aí sim, sentir doer. reflito sem pensar no rumo que as coisas não estão levando. e nas decisões não tomadas. verdade é que mudei antes da primavera. ela percebeu antes de mim. mas parece que não quer vir junto. quer persistir. seguir as estações dos outros é passar o tempo e não mudar. as flores parece que secam nesse ritmo. e eu, lembrando o sambista, quero pisar nas folhas secas, em vez de replantar o que morreu. lembrar do que passou. e voltar. desistir de seguir pra frente. porque ele também sempre acaba. voltar do rumo que deu errado ainda é um passo atrás. mas é um passo que se dá andando. e assim vou me acabando.

23.9.19

das mudanças de estação


Não sou primaveril. Se for pra ser uma estação, sempre me achei outono. Discreto, na minha, pouco protagonista. Aquela estação que simplesmente está ali entre as outras, mas que pelo menos no recife, ninguém nem percebe direito. Eu sempre fui esse cara, que faz número. Que não é importante, que não é grande. Se já me incomodei, acostumei.
Questão é que o dia 22 tem uma mania de mexer na minha vida. A primavera, diferente de mim, vem pra mudar. Um encontro entre dançarina e funcionário. Um bom dia transformado em boa noite. uma retomada. Sem muita coisa falada. Sem muito mesmo a falar.
Mas que registro aqui, onde tantas outras viradas ficaram antes registradas.

22.5.19

Nota sem título - Draft

Não consegui te ver. Pelo tempo corrido. Avião uber metrô barca ônibus. Congresso congresso congresso congresso. Foi muito trajeto e pouco tempo. Pelo tempo ruim. Chuva túnel desabando barca balançando sapato encharcando e prefeitura alertando. Foi muito estágio de crise e pouco tempo. Mas acontece que foi também muita crise. Questões dilemas problemas e incertezas. E uma crise mesmo. Muita pergunta que eu não sabia se podia responder. E por ser difícil eu não consegui te ver.

Porque não consegui me acostumar. Não tive tempo. Porque parece que já faz muito, mas foi agora e no meio de um outro tudo que corre em paralelo aqui. Nas galerias eu disse que não sabia se conseguia estarmos ali os três. Lá ele já tava. Mas eu não via. Aí também estaria. Mas seria mais difícil parecer que não. Porque eu pareço racional, mas só pareço. Porque eu ainda não consegui lidar. E aí não conseguir te ver.

Parece fácil e egoísta. E mesmo sendo um pouco do segundo, não é nada do primeiro. Não consegui te ver. Não sei se a gente um dia consegue me perdoar por isso. Não sei se é caso de perdão algo que alguém não fez. Não consegui te ver. Quem sabe na próxima. Com tempo menos corrido. Com tempo menos ruim. Com menos crise. A gente vê.

3.1.19

subiu o ônibus e preferiu ficar em pé. mesmo com cadeiras vazias, havia o risco de desabar caso sentasse. nos ouvidos o som da pitanga que falava ao corpo todo como uma infiltrado ruído que ressoava nas células pelas membranas fazendo vibrar qualquer parte que existisse e que fosse sensível. vivia ainda a manhã estranha daquela quinta-feira nada fria, mas que ainda assim, não o aqueceu. naquela manhã de quinta, naquele dia, que ao final do ano, nem falta faria, ele estava só. um coqueiro velho na praia. alheio, mas ao mesmo tempo, submisso ao vento.