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23.11.08

sinal fechado. o carro parou. entre a locadora e o lava-a-jato, ela olhou pros dois lados. olhou pra frente. depois das ruas, o mar. prédios altos e um céu teimosamente nublado entre eles. precisava fumar. cadê o cigarro. no porta luvas, não. na bolsa., embaixo do banco. puxa debaixo do banco para o colo. mexe e volta. pra quê diabos serve uma bolsa desse tamanho?! olhou pro semáforo. demora mais quando a gente tem pressa.

branco. um guardanapo amassado em forma de flor. besteiras dele. ainda ali. como os barquinhos, pássaros, aviões que fazia com todo pedaço de papel que encontrava. nota fiscal, panfleto, guardanapo. incrível como não podia controlar. uma mania absurda. abandonava qualquer conversa pras fazer as estúpidas dobraduras. e as deixava em todo lugar. na mesa do bar, nas janelas, no bolso da camisa.

uma buzina. o sinal está verde. larga a bolsa no colo. parte. dobra à esquerda e segue paralela à praia. outro sinal. agora, o cigarro. acende, abre a janela. pega a pequena flor. branca, amassada. a mão a segura do lado de fora. e depois solta. o carro anda, a flor pequena voa na fumaça cinza dos escapamentos.

21.10.08

pegou o pincel que ficava escondido numa das muitas gavetas do armário. e as tinatas. verde. azul. vermelho. em frente ao espelho, pintou. em todas as direções. sentido. passava a tinta como se limpasse a alma. como se colorisse os olhos. como se gozasse a dor. olhou. não viu senão o cinza. o memso cinza de todas as coisas.

sentiu ainda na boca o gosto da fumaça que transpirava.

13.10.08

nesse teu balanço eu ia
fazia minha vida nessa calmaria
no teu abraço de mar
nesse teu beijo de brisa
nessa maré boa de se deixar flutuar

12.10.08

10.10.08

esperou. esperou. quis abrir novamente a cortina do quarto. antes branco, agora cinza. quis derreter a solidez das paredes. quis desfazer as fumaças da vida. queria memso ver azul. queria mesmo ver sentir. algo mais que a suspensão das sombras das folhas.

parecia firme quando caiu.

3.10.08

cinza é o corpo da fonte.
cinza meu corpo. minha fonte.
a nuvem.
o queu tenho de concreto e fumaça.
a água.

cinza o meu papel.
minha parte. minha letra.
a chave.
o queu achei que sabia e desconheço.
cinza.
como chegou em casa ficou até dormir. horas depois. molhado. acordou nublado e cinza. cinza o jornal que fingiu ler. cinza o café que não tomou. cinza a fumaça do cigarro que tia fumava na janela da sala. fumaça suspensa. densa. como a fumaça no quarto cinza. voltou para a cama. fechou a cortina. esperaria a chuva cair novamente.

esperava a hora em que ia pingar.

2.10.08

mais uma vez ele saiu. teimou naquela idéia. de se vestir. sair. e investir contra o cinza que se suspende no céu. no lugar do sol. achou que poderia encontrar uma brecha. um raio. mas achou um pingo. depois outros o acharam. voltou pra sua casa cinza.

ficou em casa molhado e cinza e suspenso como o dia.

1.10.08

depois de vinte e dois de setembro ele saiu de casa. o quarto deveria, agora, parar de flutuar. a cortina não iria mais impedir o sol de entrar. saiu e procurou as flores. saiu pra ver se via o sol. viu, na mesa branca do bar pequeno, as nuvens que de novo cobriam as árvores e o céu. misturando sombra e e chuva. o toró ainda cai! deicidiu que seria pra ele também, como f disse: outubro ou nada.

pra que serve um solstício se minha primavera não chega.

22.9.08

não era tanto o som
mas o eco de um violão
que o fazia acordar
todas as noites
às três e quarenta da manhã

pr aligar e desligar a tevê azul
pra sentar e deitar
virar e virar e desforrar o lençol da cama
e não pensar mais em nada

só ouvindo ecoar
o som das cordas espessas
presas
indo e voltando
batendo
nas paredes nas quinas nos cantos
daquele quarto vazio

flutuante

21.9.08

aí você acorda. olha pela janela. olha pro relógio do som e vê que não dormiu. vê que quem dorme ao teu lado é a mesma pessoa que estava ali na semana passda. vê que o teu lençol está no chão. vê que não está suando. que a mão dela segura a tua.

o resto do quarto flutua.

17.9.08

vem cá

me olha bem no olho
daquele jeito nosso
que me faz pensar nas flores
do arranjo de mesa da tua sala de estar

chega mais perto
põe minha mão na tua
me puxa
daquele jeito solto
que quase deixa encostar teu pé no meu
e faz dançar a tua saia verde e a minha bermuda jeans

aí me abraça apertado
daquele jeito junto
com o corpo inclinado
e a cintura chamando minha mão a rodar

depois encosta tua cabeça na minha
do teu jeito de lado
que faz misturar a minha barba e o teu cabelo enrolados
e me mostra o teu pescoço a beijar

e empresta teu ouvido à minha boca
prela te contar um segredo
prele ouvir em palavra
o que teu corpo conhece em beijo

16.9.08

eu tento olhar direto pro sol. esquecer da cortina arrancada. deitada. amassada no chao. vejo um raio que corta o quarto. vejo um azul. vejo o vermelho das minhas mãos e esqueço do sujo da chuva. esqueço por um segundo. mas penso que pode ser pra sempre. penso que posso queimar essa pele. torná-la seca e dura. tanto pra poder descamar noutra. pessoa.

sou pessoa que não escorre.

5.9.08

é a angústia de reconhecer o branco de tudo. de saber que sou eu. quem sou eu?
cada gora de chuva que suja a cortina branca me mancha das coisas deque me escondo, não só nos sábados, mas todos os dias. fecharia a janela. mas não arrisco me levantar. um vento. um trovão. o clarão. acordo vermelho. mao na cabeça.

acordo.
quem quiser pingar que saia de perto
quem quiser cair que escolha seu canto

eu quero dizer adeus
e me calo

quem disser que quer ser feliz que espere
quem quiser aprender que ande

eu quero ficar
e abro os braços

quem quiser acreditar..

que desista!

4.9.08

eu olho pro lado. pra cortina branca que me esconde do sol de todas as manhãs e penso no que eu queria. no que eu poderia fazer numa noite de gripe e dor de cabeça.
talvez tomar uma aspirina. ouvir uma música calma. ver um filme engraçado. ou ler alguma coisa interessante.

no branco da cortina eu vi bem claro que nem caetano ou adriana calcanhoto. nem guimarães nem bandeira. nem almodovar nem chaplin. nada me acalmaria naquela noite.
nem mesmo aquele cafuné que tava me fazendo tanta falta.

30.8.08

dias

nos sábados eu me escondo
pra pensar nada
pra me vacinar
pra não ouvir os carros que passam
na avenida recife

fico só
com meus íntimos
e esquecimentos

fico só pra lembrar que amanhã é domingo

25.8.08

um dia eu quis abrir um buraquinho na pele dela. pra ver como ela era por dentro. pra saber de onde vinham seus beijos; como seus olhos faziam pra brilhar daquele jeito; e como ela conseguia deixar o coraçaõ falar pela boca.

quis desatar seu nó no umbigo. não consegui. fiz então um outro caminho. tentei olhar dentro dela por um cantinho escondido quela tem por trás do joelho. olhei bem pra tentar ver tudo. olhei uma vez e outra. depois de novo.

vi uma menina que brincava com o sol. ela dançava por tdo o seu corpo. e parava. parava de um jeito bonito. como se ensaiasse cada intervalo. como se não se mover fizesse parte de sua dança. ela corria e pulava, e gritava coisas queu não conseguia entender. e seu corpo crescia e se esticava conforme fosse sua vontade. depois se encolhia para voltar ao normal.

fechei o buraquinho que fiz. abri o olho do lado de fora. deitei novamente ao seu lado. me deu um beijo no nariz e no cantinho da boca. me abraçou. seu coração falou com as palavras que conhece e seus olhos luziram. não pensei de novo em olhar dentro dela.

29.7.08

transetando

nem aqui nem lá
num outro espaço
que não dá lugar
nem à saudade nem ao conforto

me encolho
olho pra dentro
e vejo o que não senti
nem lá nem aqui

25.7.08

hortelã

Há de sentir muita saudade
Beijo bala de hortelã
Do abraço exposto na cidade
Longas horas das manhãs

Há de lembrar dos fins de tarde
Em céu laranja o adeus do sol
E o sabor do chocolate
Em noites frias luva e lã

Do tempo tido como eterno no início da paixão
Pra sempre, sempre repetido nos sussurros do amor
Do sorvete dividido nas calçadas de verão
E dos segredos prometidos no primeiro réveilon

Deixa a vida lhe trazer recordações

(alvinho e ivor lancelloti) - fino coletivo

27.6.08

Festa do Band Aid: pra curar sua ressaca

mesmo que muitas correntes de email tentem descrever o que é ser amigo eu tenho kminha própria definição: é receber 156461354 vezes o mesmo convite pruma mesma festa que você já tinha confirmado presença há um tempão, e não só não se incomodar mas postar no seu blog bendito convite:

"Festa do Band Aid: pra curar sua ressaca"

O mês de Junho costuma ser o período de maior valorização das raízes regionais e da cultura tradicional pernambucana. Por todo Pernambuco se espalham festas regadas às manifestações mais tradicionais, valorizando a cultura popular de raiz. As festas juninas abrem espaço para os bacamarteiros, os coquistas, o forró pé-de-serra, a cantoria, a embolada. Mas passado o feriado de São João, as festividades seguem com mais escassez. O fim-de-semana de São Pedro costuma ser pouco lembrado.

Pensando nisso, o Coletivo Band Aid promove a festa de pré-lançamento do seu blog em homenagem ao santo padroeiro dos pescadores e detentor das chaves do paraíso. Que o velho São Pedro, arriminado de tanto ser esquecido pelos amostramentos de São João, resolveu abrir as portas do céu neste sábado, a partir das 15h, para quem se chegar no Bar de Salete, na Avenida Norte.

A "Festa do Band Aid: pra curar sua ressaca" vai reunir em uma mesma tarde a tradição dos poetas regionais, representados na figura do poeta Antônio Marinho, a embolada do coco com a apresentação do Mestre Galo Preto e o forró tradicional de pé-de-serra com a banda Pé-de-Calçada. O ingresso custa R$ 3 (três reais).

O Bar de Salete, também conhecido como Cantinho da Juli, é um recanto tradicional da Avenida Norte. Moradora no bairro de Casa Amarela, há mais de 20 anos, Salete oferece o próprio terraço para os visitantes que chegam para conferir seu arrumadinho e os seus caldinhos tradicionais. A vista panorâmica para a cidade do Recife é uma dos maiores agrados do bar, que conquista clientes fiéis. O Bar de Salete é a última casa de muro verde, na Rua Manoel Apolinário, n.º 158, transversal da Av. Norte, na altura da Concessionária Motoparts da Honda, logo depois do Sesc de Casa Amarela. O bar será especialmente decorado para a tarde com muito arrastapé, correio de amor, cerveja gelada e os quitutes de Dona Salete.

SERVIÇO:

o quê? Festa do Band Aid: pra curar sua ressaca
com quem: Antônio Marinho, Mestre Galo Preto e Pé de Calçada
quando: sábado, 28 de junho
onde: Bar de Salete (Rua Manoel Apolinário, 158, a rua da concessionária Honda na Avenida Norte)
quanto: r$3 (três reais)
hora: 15h

Coletivo Band Aid – Formado no início de 2008, o coletivo é um grupo de divulgação da música pernambucana. O grupo mantém um blog (http://coletivobandaid.blogspot.com), atualizado diariamente com a agenda cultural da cidade, destacando sempre os eventos e notícias das bandas locais com maior expressão da cultura da região. Contatos através do email coletivobandaid@gmail.com

Interessou? Pois elas tão sorteando ingresso. pode ir ver!

25.6.08

às vezes não adianta falar. repetir. as pessoas nem sempre estão dispostas a conversar. nem sempre estão querendo te ouvir. ele até sabia daquilo, mas teimava em falar. não se pensava que dessa vez sua voz teria um efeito diferente aos ouvidos dos outros. se achava que forçando parecer mais firme ou parecendo mais seguro daria uma força maior às suas idéias. sei que falava. e suas palavras tinha um som de súplica. pediam, imploravam para serem compreendidas. acho até que eram escutadas, mas não recebiam a atenção que ele queria que recebessem. e, pra falar a verdade, nem a mereceriam, se a tivesse. ainda assim, ele insistia. quem sabe um dia acertava.

22.6.08

iam as duas assim
brincando sob as ondas que o vento desenha
uma após a outra se colocavam
enchiam-se dos brilhos de si mesmas
se deixavam pintar pela luz e pela sombra
ora uma, outra de volta
iam felizes, me trazendo sorrisos
deixando em mim um cheiro
e uma lembrança de beleza imensa
Hoje, depois de muito tempo resolvi ver um jogo de futebol na tv. Mas ver de verdade, como costumava fazer quando era adolescente. Fiquei apreensivo antes do começo do jogo. Não aquela apreensão de saber se o craque do time vai fazer aquele gol; ou porque o time adversário é forte; nem porque seu time do coração depende desse resultado pra se manter vivo na competição. Fiquei pensando como seria revisitar um velho hábito. Será que seria a mesma empolgação? A mesma adrenalina de quem grita baixinho pra não acordar os pais que estão dormindo?

Aí fiquei pensando. Será queu vou voltar a acompanhar o time. Torcer contra a equipe que está na frente no campeonato. Acompanhar todos os times da tabela jogo por jogo, pra imaginar como vai ser a próxima partida. Acho que a gente sempre se pergunta: como será que você seria se não tivesse perdido aquele hábito da infância ou da adolescência? Se não tivesse acabado aquele namoro, se não tivesse escolhido fazer jornalismo? Será que ainda seria a mesma pessoa, teria feito os mesmos amigos, comprado os mesmos discos e lido os mesmos livros? Será?

Foi pensando nisso queu esperei o jogo começar. Foi bom! Vez por outra me vi levantando o braço, sentindo aquele impulso de xingar o juiz. Comemorei dois gols contra o Vasco. E no intervalo ainda fui lembrado de duas decisões históricas (que lembro de ter assistido ao vivo em 1999 e 2000). Fiquei feliz com a vitória, vim na Internet olhar a classificação na tabela. Vi contra quem vão ser os próximos jogos, fui ver como as equipes vêm se apresentando.

Mas nem sei se vou ver o próximo jogo. Acho quessas coisas são sempre assim, né? Como uma recaída. Ficar de novo com aquela menina que você tinha dispensado; fumar só aquele último cigarro. Têm um gosto especial, talvez um saudosismo. Mas não é a mesma coisa. Não digo que foi decepcionante, mas não teve o mesmo efeito. Então eu penso: o que será que mudou? Ou, mais precisamente, quando foi que esse seja lá o que for mudou?

2.6.08

luiz queria correr e dizer a ela que não. que não fizesse, que não fosse.
mas nao podia. não era a coisa deles. não era viver, assim.
ele a olhou de longe. parado naquele memso lugar onde dormiram por semanas. a via se afastar na grama ainda molhada. perdeu a vontade. baixou a cabeça. se ela estivesse a seu lado, lhe apertaria a mão. mas de longe não havia o que fazer.

ela, não sei que pensava. andava, se achava certa, creio. se determinava a não olhar pra trás. não hesitou sequer um passo.

ele aceitou seu lugar.

28.3.08

sou ruído e fumaça
o oposto da luz
que se vê por trás da palpebra fechada
sou lágrima

20.3.08

Maria

Eu me perdia nas ondas
Mar ia me levava
Eu no seu azul imenso
Me deixava sentir seu beijo
Mar ia me abraçava
Eu no seu sopro de vento
Me deixava absorver seu calor

25.2.08

fotossíntese

ela é jardim em queu me deito
pra fazer a sua foto
síntese das suas cores
escrita e síntese da sua luz
que me revela seu cheiro de campo
o sabor de seu fruto
e o brilho da sua flor

me deito
e me fixo nos seus grãos
me deixo agarrar por suas raízes
absorver e transformar em seiva
pra correr seu corpo
e virar orvalho em suas folhas
pra virar calor em meio à noite
e evaporar

15.1.08

aquele teu doce do céu.
aquele barulhinho do mar
aquele teu cheiro

são minha brisa de outono
queu quero pra todas as estações do ano

teu beijo com gosto de onda queu gosto tanto
a chuva caiu. e ele sentiu a beleza de cada gota. achou que seria poético chorar, mas evitou. apenas se riu daquelas gotas e dançou consigo no meio da noite. chegou em casa um novo homem e dormiu com o barulho do ventobatendo na árvore do quintal.

13.1.08

tem sempre alguma coisa que anuncia a chuva forte. cada um prevê de um jeito. pra uns basta sentir os pássaros voando pesados, olhar as nuvens cinzentas, ouvir o silêncio. pra ele era um certo tom de voz, que vinha não se sabe de onde, ao seu ouvido e dizia que nada iria acontecer. quando ouvia essas palavras, era chuva na certa! o dia amanhecia nublado e quente e ele espirrava. e ao mesmotempo pensava que quem sabe dessa vez realmente não fosse nada, só sua imaginação.
então saiu de casa correndo, queria ver se impedia o céu de chorar. pisou do lado de fora e se molhou e passeou na chuva, querendo fazê-la parar de cair, e querendo ele também despencar.